quarta-feira, abril 16, 2008

PRIMAVERA

Com o pé afasto a cadeira que me impede uma melhor exposição ao sol. Inspiro e respiro este ar primaveril que me enche os pulmões e preenche a alma. Fecho os olhos e espreguiço-me. Uma sensação de agrado e bem-estar percorre-me o dorido corpo inteiro.
O sol quando nasce é para todos! Mas, será mesmo assim? Bom, até porque ainda não tributado, não nos privemos dele, pois então.
Diante do portão passam camionetas com os garotos para a escola. Como sardinha na lata, lá vão, acabrunhados, para mais um dia de clausura. Àqueles desgraçados – mesmo que algum professor lhes falte – alguém se encarregará de lhes sonegar o sol e o ar que me alimentam o corpo e libertam o espírito.
Esta convalescença permitiu-me pausar o frenesim quotidiano e valorizar aquilo que a tirana vida contemporânea – subjugando-nos – não nos permite usufruir.
Mas deixemos os humanos e as suas diatribes perversas e usufruamos do contacto com a natureza.
Levanto-me, estico as pernas e olho em redor: as andorinhas retornam aos seus ninhos no beiral.
Vindos dos telhados da vizinhança voam, sobre a eira, os pombos que vêm pousar sobre a grossa coluna do alpendre. Do alto do tosco granito, enquanto constroem o ninho, pedaços de tudo caem dos seus bicos sobre o vaso da enorme, amarela e caduca azálea.
É a vida que germina. É alegria que volta.
Que azáfama a renovação da natureza! Esvoaçam esbaforidas as rolas que, das despontadas vides, vêm – no pinheiro do meu jardim – procriar perante a mais completa indiferença de melros e pardais que debicam na relva.
Até que repente tudo voa em turbilhão quando – vindos do canil – os desauridos cães cruzam os relvados tudo tentando abocanhar.
Sinto-me vivo. Entro em casa e muito lentamente saboreio um chá de camomila.
Adoro a minha casa.
J Santos Pinho

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