segunda-feira, dezembro 25, 2006

Natal


Oh meu menino Jesus
Que teimas ainda
Em vir novamente
Ao mundo que os homens
Puseram tão feio
Mas que querem ver linda
Uma noite, somente…
Mais uma vez Tu vens Jesus
Mesmo rejeitado,
Mesmo negado,
Vilipendiado, Tu teimas Jesus
Trazer mensagem
Que o mundo rejeita
E que não aceita;
E só tem coragem
Para multiplicar
Sujando as mãos
Os 30 dinheiros
Da sua traição…
O Judas, Jesus,
Traiu-te uma vez
Mas foi corajoso,
E nós oh Senhor
Cobardes, traidores
Que damos em troca
Pelo Teu amor?...
Menino Jesus
Que voltas ainda
Uma vez mais,
Vem Menino,
Mas por favor
Fica sempre pequenino
Não vejas, menino
Tantos meninos,
Tão mal amados,
Tantos meninos,
Não desejados;
Tantos meninos abandonados,
Vendidos, comprados;
Tantos meninos assassinados
Violados, mutilados
Tantos meninos sem pão, sem amor;
Tantos meninos que nem sequer
Foram meninos.
Menino Jesus, por favor não cresças
Não vejas a cruz,
Fica sempre menino,
Jesus !...
Deitado, olhando
Pró céu de Belém
Vendo apenas a estrela e a luz.
(12/12/1985)
Mª Carolina Pinheiro

Amadeo Souza-Cardoso

Amadeo cosmopolita



Neste Natal dê uma prenda diferente.
Numa época em que impera o materialismo, o ter e o empanturrar-se, ofereça a si próprio o usufruto de um bem cultural.
Esqueça o caótico trânsito, os nervos em franja dos outros automobilistas, e desfrute de uma agradável viagem de comboio entre o Porto e Lisboa. Afinal, não é todos os dias que se vai à capital. E desta vez o evento até vale bem a pena.
Refiro-me à exposição «Amadeo de Souza-Cardoso. Diálogo de vanguardas» a todos os títulos imperdível. Está a decorrer desde, o dia 15 de Novembro e até 14 de Janeiro próximo, na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa e é imprescindível para compreender a obra do artista colocando-a em diálogo com as correntes internacionais de vanguarda. Amadeo à compita com uma plêiade de trinta e sete artistas de que se destacam, entre outros, Brancusi, Mondigliani, Picasso, Malevich, Léger e Duchamp.
É que as obras de arte são cada vez mais valorizadas pelo sistema comunicativo e por isso mesmo a participação do público é fundamental, tanto no domínio da fruição estética, como até mesmo (o que não é aqui o caso) no que se refere à sua aquisição. A possibilidade de observar obras que pertencem a colecções privadas de acesso público ou reservado é uma óptima ocasião de entender a obra de arte como uma obra aberta e para além dos valores objectivos que comporta.
A leitura da obra de arte inscreve-se cada vez mais no sistema de obra aberta, ou seja, no processo que permite ampliar os sentidos e os significados a partir da sugestão de cada visitante. Enquanto espectador-fruidor tem a possibilidade de projectar e atribuir novos e múltiplos valores estéticos a uma exposição simultaneamente impressionista, futurista, cubista e abstraccionista.
As obras revelam uma força inquietante e uma irresistível sedução. Num percurso veloz, Amadeo cruza vários caminhos, faz uma reconversão pessoal de códigos alheios e explora a confluência entre o figurativo e o abstracto. Aproximando-se e distanciando-se de várias correntes cria um novo imaginário por influência da presença em Portugal: objectos múltiplos de cariz popular – peças de cerâmica, bonecas, formas arquitectónicas, janelas, casas – num universo denso de formas, luz e cor. Estes elementos são muitas vezes acumulados de uma forma anárquica.
Amadeo de Sousa-Cardoso nasceu, em 1887, na aldeia de Manhufe, freguesia de Mancelos, concelho de Amarante e Distrito do Porto. Participou nalguns dos momentos mais importantes da arte europeia dos princípios do século XX e faleceu, em Espinho, vítima da gripe pneumónica. Dizia de si mesmo que: «tinha mais fases do que a lua».
Dele escreveu Jean Cassou:
"Cette carrière fulgurante achevée à trente et un ans, est riche de toutes les plus véhementes inquiétudes du temps… Frémissante d'impatience et d'exuberance, elle est la jeunesse même dans une extraordinaire époque qui fut une époque de jeunesse…
Souza-Cardoso et son oevre vivent désormais dans le strict royame de la révolte et de l'espoir, dans l'âge de la jeunesse."

J. Santos Pinho

Nostalgia


Dias que são noites;
Noites sem sono
Com esperanças adormecidas…
Vivências do passado…
Olhos enxutos de lágrimas cristalizadas
Mirando o infinito
Dos sonhos por realizar
Num futuro com limites
No tempo que foge sem esperar…
(14/03/2002)
Mª Carolina Pinheiro

Lágrimas


Sou tão feliz…amor…
Parece um contra-senso
Ser feliz hoje
Quando devia só chorar…
Mas é pequena a minha dor,
Bem pouca a pena
Se penso em tudo o que hoje vi
No teu olhar…
No teu carinho;
Na força que em teus braços adivinho
P´ra me defender,
Que sou feliz e hei-de lutar
P´ra merecerO bem de possuir o teu amor
E estreitarCom mais força e mais calor
Os laços que nos prendem
E que alguém, por mais que tente
Jamais pode quebrar.
(06/06/1954)
Mª Carolina Pinheiro

domingo, dezembro 24, 2006

A Usaf em confraternização


O Castelo do Sonho


Tal cavaleiro andante em cavalgada,
Pus-me a caminho, em busca de um Reinado;
A amedrontar-me, um mar encapelado,
Mas eu seguia em frente, encorajada.

Só via além, um ponto luminoso,
Uma estrela brilhante que luzia,
A indicar-me o caminho que seguia,
Direito a esse castelo apetitoso.

Mas... Oh! Que duro encontro da Verdade
A queda da Ilusão à Realidade!...
Esse belo Castelo era de Sonho,

E o mundo que me olhava tão risonho,
- O mundo que eu buscava - Só existia
No reinado da minha Fantasia!...

25.09.1953
Maria Carolina

Outono


Quero Sol que ilumine este meu dia,
Não quero vento, chuva, escuridão;
Quero Sol que derreta a neve fria
Que há muito mora no meu coração.

A Primavera passa, passa o Verão
E eu não consigo ter Sol, ter alegria;
É sempre Inverno frio, solidão,
Amargura, tristeza e nostalgia.

Mas hoje eu quero Sol, quero secar
Os meus olhos de chuva, tão molhados
Com lágrimas que turvam meu olhar,

Porque hoje alguém me olhou e descobri
Que o "Outono" pode ter alguma cor,
Que estou viva, que ainda não morri.

26.01.2001
Maria Carolina