quinta-feira, janeiro 29, 2009

O Envelhecimento

O Envelhecimento

O envelhecimento é um processo natural do ciclo e desenvolvimento biológico pelo qual todas as espécies atravessam. É assim, um processo universal e inevitável, ocorrendo em todos os sistemas corporais, mesmo sob circunstâncias ambientais e genéticas óptimas.
O aumento dos esforços de investigação no envelhecimento deve-se sobretudo ao aumento da esperança de vida e à tendência para a diminuição das famílias reduzindo assim a proporção de faixas etárias mais jovens, invertendo desta forma a pirâmide populacional. Isto foi possível através dos progressos da medicina e tecnológicos, maior qualidade de vida e estilos de vida mais saudáveis, traduzindo-se assim num importante impacto económico e social.
Os sinais do envelhecimento manifestam-se em termos biológicos, psicológicos e sociais, que são característicos desta etapa desenvolvimental.
O envelhecimento como processo biológico pode ser definido como os processos dependentes do tempo, que levam a uma perda progressiva da capacidade funcional (como a perda da função respiratória e função visual) depois da maturidade. Estas mudanças degenerativas são intrínsecas ao corpo e não são trazidas pelo ambiente externo, ocorrendo num padrão que é característico de cada espécie (Moody, 1998). O envelhecimento normal não é uma doença, mas produz eventualmente algum declínio funcional e aumenta a susceptibilidade a doenças específicas. Alguns sinais biológicos do envelhecimento estão associados a diversas alterações fisiológicas. Assim, o envelhecimento fisiológico em geral assume a forma de perda celular associada a um declínio na eficiência das restantes células que se manifesta a nível tecidular (existe perda de elasticidade da pele, por exemplo). Estas alterações por sua vez têm um efeito prejudicial sobre o funcionamento dos sistemas corporais (por exemplo, o sistema urinário torna-se mais lento e menos eficiente para excretar toxinas; o sistema gastrointestinal e cardíaco ficam menos eficientes, etc.). Também é evidente com o envelhecimento uma afectação dos sistemas sensoriais, nomeadamente a visão, a audição.
Estas mudanças têm por sua vez um efeito prejudicial sobre o funcionamento do cérebro e portanto, sobre o desempenho psicológico. De facto, em termos cerebrais as investigações apontam para uma diminuição do volume cerebral, mais evidente por perda de substância cinzenta e acompanhado por aumento do líquido cefalorraquidiano, reflectindo atrofia cerebral. Além disso, vários estudos demonstram que a perda de volume cerebral ocorre de forma linear com a idade, sendo notória perda de volume na ínsula, circunvolução parietal superior, redução bilateral da cabeça do núcleo caudado e lóbulo temporal medial (hipocampo e as circunvoluções temporal superior e média) (Bigler, Andersob & Blatter, 2002, Hedden & Gabrieli, 2004; Good et al., 2001; Resnick et al., 2003; Blatter et al, 1995; Bigler et al., 2001).
Como consequência deste processo natural que se manifesta em múltiplos sistema, o envelhecimento está associado a alterações das capacidades cognitivas como velocidade de processamento de informação, atenção, memória e sobretudo na utilização de estratégias eficazes de aprendizagem e flexibilidade mental. De facto, a memória é a capacidade cognitiva que sofre alterações mais evidentes durante o processo de envelhecimento normal, no entanto, algumas capacidades mnésicas parecem sofrer grandes modificações com a idade enquanto que outras são relativamente resistentes ao processo de envelhecimento, nomeadamente, a manutenção de uma memória autobiográfica relativamente bem preservada.
Por sua vez, estas afectações biológicas e cognitivas vão ter um impacto significativo em termos sociais. De facto, os processos de envelhecimento biológico, psicológico e social não ocorrem independentemente uns dos outros. Em termos sociais, a pessoa enfrenta o processo de reforma, podendo alterar também a rede de relações sociais que se construíram ao longo da vida. Além disso, nesta fase da vida encontram-se perante determinadas circunstâncias, incluindo numerosas perdas na sua própria vida: saúde, trabalho, entes queridos e relações sociais, etc.
Com o objectivo de definir quais os padrões normais que caracterizam um processo de envelhecimento normal, várias investigações têm surgido na tentativa de caracterizar este processo ao nível dos sistemas biológico, cerebral, psicológico e social. No entanto, a conclusão partilhada dos estudos é a de que o envelhecimento é assim um processo natural múltiplo e gradual, caracterizado por uma enorme variabilidade individual, sugerindo que o tempo não tem as mesmas consequências para todas as pessoas - podendo ocorrer um envelhecimento normal e positivo, ou pelo contrário, ocorrendo num processo patológico, manifestando-se nas distintas formas de demência.

Adriana Sampaio
Docente e Investigadora da Universidade do Minho
Colaboradora da USAF