A tia Antónia vivia só, na casa de pedra que herdara dos pais. Nela vivera anos felizes em companhia do marido e ali criaram os cinco filhos que Deus lhes dera. As paredes grossas protegiam-na da chuva e do vento, mas o telhado de telha vã deixava entrar o frio deste mês de Dezembro e se não fosse o lume morreria enregelada. Este era o seu maior receio, morrer de frio.
Os filhos havia muito que tinham deixado a aldeia, em busca de melhor vida, uns andavam por França e outros tinham ido para o Brasil, nos anos cinquenta, já o marido tinha falecido.
Os anos pesavam, já passara dos noventa, por isso desde que começaram as chuvas não saíra mais de casa. Tinha um desejo tão forte de ir à missa do galo na noite de consoada, que até andava apoquentada, por não encontrar maneira de o realizar. Já havia mais de três anos que não ia àquela missa.
A igreja era no outro extremo da aldeia e as pernas não ajudavam, sobretudo agora com aquelas artroses nos joelhos e a ciática que lhe apanhava a perna direita e as costas. Depois era o frio que repassava tudo, e se nevasse como diziam para aí, então é que nem pensar em sair de casa, mais a mais à noite.
Os filhos havia muito que tinham deixado a aldeia, em busca de melhor vida, uns andavam por França e outros tinham ido para o Brasil, nos anos cinquenta, já o marido tinha falecido.
Os anos pesavam, já passara dos noventa, por isso desde que começaram as chuvas não saíra mais de casa. Tinha um desejo tão forte de ir à missa do galo na noite de consoada, que até andava apoquentada, por não encontrar maneira de o realizar. Já havia mais de três anos que não ia àquela missa.
A igreja era no outro extremo da aldeia e as pernas não ajudavam, sobretudo agora com aquelas artroses nos joelhos e a ciática que lhe apanhava a perna direita e as costas. Depois era o frio que repassava tudo, e se nevasse como diziam para aí, então é que nem pensar em sair de casa, mais a mais à noite.
Se ao menos um dos filhos viesse passar o Natal, ainda podia esperar que a levassem aquela missa, mas as cartas que mandaram não lhe davam qualquer esperança. – Se calhar vou morrer sem ir pela última vez à Missa do Galo – dizia baixinho.
Tinha feito umas filhóses e cozera o polvo com a tronchuda e batatas. 0 pote de ferro ainda estava a fumegar encostado ao cepo de carvalho, que crepitava na lareira. Estendeu a toalha de linho, pôs a mesa e encheu um sopito de vinho tinto para acompanhar as couves e o polvo com batatas. Mas antes rezou por todos os necessitados e pelos seus, pediu ao Menino Jesus que lhe trouxesse os filhos e os netos. Por fim que a ajudasse a ir à Missa do Galo.
Pareceu-lhe que ia dormitar, sentiu um enorme bem-estar, mas de repente viu o padre Caseiro virar-se para o povo e dizer"Dominus vobiscum" 'A Igreja estava cheia, estavam lá todos, bem agasalhados e ela nem sentia frio. Ouvia cantar o "Adeste Fideles", mas eram vozes tão lindas que não pareciam do coro da aldeia. Sentia-se tão quentinha e era tudo tão bonito que não lhe apeteceu acordar.
No dia de Natal, pela manhã, uma das vizinhas foi encontrar o seu corpo, já frio, sentada no seu banquinho, com a mesa posta, o lume acesso e os olhos fechados. A tia Antónia tinha ido à Missa do Galo e não lhe apeteceu voltar.
Felgueiras, 20 de Novembro de 2007
OCTÁVIO PEREIRA
RC FELGUEIRAS