terça-feira, dezembro 23, 2008

VISITA DE ESTUDO A PARTE DA ROTA DO ROMÂNICO DO VALE DO SOUSA

Batiam as catorze horas e trinta minutos e o autocarro com alunos e professores da USAF estacionava no parque de estacionamento anexo ao mosteiro de Santa Maria de Pombeiro. Lugar aprazível, mesmo para um dia mau em vésperas de começo de Inverno.
Esperam-nos o Sr. Dr. Duarte, como elemento da Rota do Românico, e a nossa guia turística de seu nome Iolanda, que começou por nos explicar a origem do Mosteiro, seus Padrados e ou Comendas.
Trata-se de um Mosteiro Beneditino e como tal no Altar-mor, ladeando a Imagem de Santa Maria, está a imagem de S. Bento de Núrcia à esquerda e a de Santa Escolástica, irmã gémea de S. Bento, à direita.
Como quase todas as igrejas Românicas, ostenta três naves.
Tivemos acesso às celas dos monges Beneditinos e seus pertences necessários ao dia a dia de quem tinha e tem por missão rezar e trabalhar.
Ficamos ainda a saber que o Mosteiro terá sido fundado pelo D. Gomes Aciegas, por volta do ano mil cento e dois com a contribuição dos Nobres Sousões, que têm um Panteão no Mosteiro de Alcobaça.
Em escavações feitas, concluiu-se que terá havido no Mosteiro uma fundição e haveria um túnel de acesso a outras residências. Claro que tinha também enfermaria e farmácia para além de todas as alfaias do tempo, para trabalhar a terra. Tudo ficou muito danificado com as invasões Francesas, que pilharam o que era de valor.
Seguimos para a Torre de Vilar (torre dos mouros como se lhe chama), cujas obras de beneficiação a que foi sujeita lhe deram um ar de superioridade de que já era grande naquele tempo e os SOUSÕES eram grandes entre os grandes.
A torre ou casa forte está implantada sobre afloramento granítico e, segundo as Inquirições de 1258, na freguesia de Santa Maria de Vilar haveria dez casais, todos pertencentes a nobres e não havia propriedade régia. Um casal era dos filhos de Martini Subgerii de Agares (Martin Soares de Agares), cinco de Johannis Martini de Cainde (João Martins de Ataíde) e os restantes de Domni Egidii Martini (D. Gil Martins de Riba Vizela), e pensa-se que terá sido desta última família a origem da Torre de Vilar ou dos Mouros, tanto mais que a igreja de Santa Maria de Vilar lhes pertencia. Por uma carta de Martim Gil de Riba Vizela (II) ou de Sousa, datada de 24 de Fevereiro de 1306, escrita na torre e na qual o Conde de Barcelos promete a defesa do Mosteiro de Bustelo, entende-se que terá sido construída antes desta data.
Passamos depois ao lado da Ponte de Vilela para irmos visitar o Grandioso Mosteiro de S. Pedro de Ferreira, que terá sido construído por volta do ano de 1170 e 1180 e terá sido Pedro Pais da Maia que, ao refugiar-se em Leão, terá contratado um arquitecto que trabalhou na catedral de Zamora para executar as obras.
Trata-se de uma Igreja de uma só nave e muito bem construída, que tinha entre a porta principal e sineira um grande Átrio ou Nártex, onde os senhores se reuniam, comiam e divertiam e por isso estava um pouco mais abaixo. A sineira tinha e ainda tem dois sinos. O grande pertencia à Igreja e o pequeno ao povo, tocando a rebate quando aconteciam desgraças.
Seguidamente passamos pelo Memorial da Ermida, monumento de interesse, que se deve relacionar com o cortejo fúnebre.
Ao que parece, na ficção, estar relacionado com o cortejo fúnebre de Dona Mafalda. Dona Mafalda era filha de D. Sancho I e de Dona Dulce de Aragão (1195-1256). Assim, neta paterna de D. Afonso Henriques. Em 1215, com cerca de vinte anos foi dada para esposa de D. Henrique I, de Castela. D. Henrique veio a falecer com 12 anos, em 1217. O matrimónio, celebrado em 1215, foi declarado nulo em 1216, por impedimento de parentesco. Dona Mafalda regressou de Castela, recolheu ao Mosteiro de Arouca e tomou hábito em 1224. Dona de muitas propriedades, promoveu a fixação de populações e favoreceu outras Congregações e Igrejas. É da ficção que faleceu em Rio Tinto (proximidades do Porto), tendo o cortejo fúnebre ido para Arouca. No trajecto fizeram-se estes monumentos (Memoriais) onde o cortejo acampou. Foram seis em todo o percurso de Rio Tinto até Arouca. O seu corpo (incorrupto) está guardado desde 1793 num túmulo de ébano e prata. È designada pela RAINHA SANTA MAFALDA e o seu culto foi autorizado desde 27 de Fevereiro de 1972.
Era já noite quando o autocarro chegou ao Mosteiro de S. Salvador de Paço de Sousa, que foi fundado por Trocosendo Guedes, depois de ter pelejado a vida inteira contra os Sarracenos.
Estava-se então no ano de 994, quando se iniciou a sua construção. Da Igreja conventual erigida por Trocosendo, não ficou memória descritiva.
Em 1088, a Igreja primitiva é substituída por um novo Templo, mais espaçoso, cuja sagração foi feita pelo Arcebispo de Braga, D. Pedro. O trisavô de Egas Moniz, de seu nome Núnio Viegas, casou com uma filha de Trocosendo Guedes. O bisavô de Egas Moniz, também se chamava Egas Moniz.
Em 1106, Egas Moniz doa parte da sua fortuna ao Mosteiro. Frei Leão de S. Tomás refere que Egas Moniz mandou ali edificar os seus aposentos, com o nome PAÇO e um dormitório para religiosos com uma torre. O Palácio (Paço) deu o nome à povoação Paço de Sousa.
O Mosteiro é Beneditino, de construção Românica, com elementos góticos. Tem uma planta basilical com três naves e um transepto saliente, cabeceiras com dois absidíolos semicirculares e abside recta. Os pilares são cruciformes, para uma pressuposta abóbada em pedra, têm uma harmonia que traduz uma sensação de estabilidade e de força. A construção é em granito e a sua arte assume-se com a função essencial entre o sagrado e a sumptuosidade das artes litúrgicas. O interior, tal como as estruturas românicas, tem uma iluminação indirecta, com pequenas arestas ou janelas. A cobertura é em madeira. Um incêndio em 1927 destruiu-o, tendo sido reedificado pelos Monumentos Nacionais. Ainda hoje se verifica nas colunas as marcas negras desse incêndio, que reduziu a cinzas adornos, alfaias e valores mobiliários do interior
da igreja.
Egas Moniz foi um fiel (aio) amigo de D. Afonso Henriques e aqui ficou sepultado. Faleceu em 1146. Teve grande influência no movimento contra Dona. Teresa, mãe de D.Afonso Henriques, essencialmente na batalha de S. Mamede. É UM RICO-HOMEM (da família Riba Douro). O seu túmulo foi várias vezes mudado de local, dentro da Igreja. Em 1605, Martinho Golias verificando que a capela-jazigo carecia de Obras demoliu-a e ordenou que os despojos fossem transladados para a igreja do Convento. Apenas Egas Moniz ficou junto à Capela-Mor, dentro da arca funerária.
Em 1741, Frei Manuel das Neves, desejando alterar a Capela-Mor, rebaixou o pavimento e a arca de Egas Moniz foi desconjuntado e maltratada. Em 1784, Frei Manuel S. Tomaz, reconstruí a Capela-Mor e o túmulo de Egas Moniz foi removido. O túmulo foi com os ossos de Egas Moniz e seus filhos para o lado esquerdo do corpo da Igreja e depois para o fundo da Igreja à entrada.
Egas Moniz criou à sua volta uma lenda, que é conhecida pela sua intervenção no cerco de Guimarães, por D. Afonso VII de Leão (1127). O túmulo com as suas esculturas em baixos relevos apresenta cenas da lenda de ir de corda ao pescoço com a família ao Rei de Leão, em sinal de fidelidade e vassalagem, insistindo na sua condenação. O túmulo tem, ainda, numa cabeceira a ingénua figuração da salvação (a alma sai pela boca do defunto e é recolhida por dois Anjos) e as carpideiras a entoar os seus cânticos e choros.
O Mosteiro em 1580 passou para os Jesuítas (com o Conde D. Henrique), teve Abade Comendatário e aqui entrou em decadência. Foi um Mosteiro rico com bastos domínios e os Abades Beneditinos acrescentaram os claustros, dotaram-no com água perene, oficinas, casa do Capítulo, refeitório, dormitório, administravam o ensino, tinha uma Biblioteca e uma botica (farmácia).
Em 1834, as Ordens Religiosas foram extintas, o Convento foi vendido e a Igreja de S. Salvador foi entrega à Paróquia de Paço de Sousa. Em 1875, foi fundada a Casa Pia de Paço de Sousa (no recinto da entrada), por um brasileiro, Francisco José Ferraz. Em 1940, ardeu a ala sul e assim acabou. Em 1943, o Padre Américo aí fundou a Casa do Gaiato, na cerca da Quinta do Mosteiro.

A.C.NOGUEIRA 04-12-2008

1 comentário:

Anónimo disse...

Interesado por el linaje de los Riba de Vizela, quisiera saber si Gil Martin II de Riba de Vizela murió en la Torre de Vilar y si fue así ¿murio de muerte natural?