sexta-feira, dezembro 31, 2010

USAF ALEGRA O NATAL EM LARES DE IDOSOS

A Universidade Sénior e Autodidacta de Felgueiras, prosseguindo os seus objectivos no âmbito da intervenção comunitária, concretizou um programa de animação de quatro lares de idosos do Concelho, através da intervenção do seu Grupo de Teatro (com as peças “Os anjos em greve” e “Um Natal dos nossos dias”), do Conjunto de Cavaquinhos e da Tuna Académica.
Os lares onde se desenvolveu o programa foram os de Barrosas (15 de Dezembro), de Airães (17 de Dezembro), de Fijô (19 de Dezembro) e de Santa Quitéria (22 de Dezembro).
O programa, muito apreciado e aplaudido pelos idosos, só foi possível devido ao empenho dos alunos e professores da USAF e à colaboração da Câmara Municipal de Felgueiras, que disponibilizou transporte para Barrosas e Airães.







CONTO DE NATAL

Nevara durante os dois últimos dias, mas ao fim da tarde o céu ficara limpo de nuvens e as estrelas brilhavam mais durante a noite gelada de Dezembro.
Depois da ceia planeavam-se as actividades da família para o dia seguinte.
- O António e o Alberto iriam limpar oliveiras para olival dos Rechões e trariam duas cargas de rama para a corte de Vale de Serva onde o rebanho ficaria amanhã. Por sua vez o Virgílio levaria o rebanho de ovelhas lá para a Escabeda, mesmo que pouco encontrassem para comer, pelo menos arejavam.
- O Aquiles ia com os cordeiros para a trigueira de Vale da Moira e a Raquel ficaria em casa a ajudar a mãe a fazer as filhós e dava um salto à horta da Devesa com o Carlos para apanharem uma carga de nabos. Como não havia escola, o Luís levava as vacas para o lameiro de Campo Redondo.
Quem dava as ordens era a mãe, tinha ficado viúva com oito filhos pequenos, o mais velho tinha agora 19 anos e, um dos mais novos, o Artur tinha morrido logo a seguir ao pai.
Agora quem vai acomodar o gado, perguntou o Alberto que era o mais velho. Levantaram-se dois, mas já à porta o Carlos gritou pelo Luís para que trouxesse o lampião e uma faca para cortar uma abóbeda para deitar às mulas.
Os outros ficaram à volta da lareira, enquanto a Raquel, que acabara de arrumar a loiça, preparava uma vianda para os porcos.
Ainda assaram umas castanhas para o final do serão e depois foi toda a gente para a cama. Alguns já estavam a caminho quando a mãe bem alto avisou da cozinha que amanhã não havia merenda, nem almoço para ninguém, era dia de jejum.
O Luís foi o primeiro a deitar-se, mas não conseguia dormir. A cama estava fria, mas não era essa a razão. Amanhã era dia de Consoada, véspera de Natal, já andava a prepará-la há mais de duas semanas. Também estava contente porque não havia escola e podia ir com as vacas para o lameiro, apanhar míscaros e assá-los, ou ir com os cordeiros para o marfolho do trigo e vê-los brincar e saltar. Eram a sua perdição e quando podia, pegava neles ao colo, sempre que os irmãos não viam.
Já noite alta adormeceu, pedindo uma coisa ao menino Jesus, queria saber como seria o céu. O senhor padre na catequese falara que era um lugar com luzes ao sol a brilhar, tudo muito resplandecente e desde então esta ideia martelava-lhe a cabeça.
Ainda o sol não tinha nascido e já toda a gente estava a pé. Até o Luís e nem se queixou de não levar merenda, foi abrir a porta da curralada e soltou as vacas e vai de tocá-las para Campo Redondo, era ainda meia hora de caminho.
Quando já tinha metido as vacas no lameiro, despontou o sol e foi quando reparou nos carvalhos, grandes e pequenos estavam cheios de cristais pendurados das pontas dos galhos, que reflectiam a luz do sol em milhares de cores, tonalidades e cambiantes.
Nunca tinha visto nada assim, ficou embevecido e até se esqueceu de aquecer as mãos na fogueira que fizera. Correu pelos campos fora para ver se nos outros lameiros também havia luzes dependuradas das árvores, e havia.
Voltou para junto dos animais, aqueceu as mãos e os pés, sem descalçar as botas. Mas quando olhou novamente a visão tinha desaparecido. O calor do sol derretera as estalactites de gelo formadas pela neve derretida e pela geada durante a noite.
- Não importa, agora já sei como é o céu, dizia para consigo.
Nunca mais eram horas de regressar a casa para contar à mãe e aos irmãos o que tinha visto, eles não sabiam como era o céu.
Quando o sol já ia muito baixo, reuniu as vacas e foi levá-las a beber, ele também sentia fome, apeteceu-lhe beber água na fonte e comer umas castanhas, que encontrara debaixo do castanheiro grande, mas lembrou-se da recomendação da mãe, era dia de jejum.
O cheiro a polvo cozido sentia-se à porta de casa e quando entrou deparou com a mesa já posta e uma grande travessa de filhós polvilhadas de açúcar e canela em cima de um banco na cozinha.
- Posso comer uma?
- Não podes, não senhor - respondeu a irmã, atarefada com um prato de rabanadas.
- Também não te conto um segredo.
- Espera só um pouquinho, os teus irmãos estão a chegar e vamos já para a mesa, meu filho, foi dizendo a mãe, enquanto lhe tirava a boina da cabeça e lhe fazia uma carícia.
E não contou, não contou a ninguém, havia de contar à mãe, mas só depois da ceia.
Passado um bocado, ouviu-se a voz da Raquel:
- Vamos para a mesa.
De volta da mesa, todos de pé, rezaram pelo pai, pelos avós e pediu-se saúde e a graça de Deus para os de casa e depois para todo o mundo, só depois a mãe começou a servi-los. O lume crepitava forte aquecendo a casa, lá fora não havia ninguém na rua.
O polvo cozido e as batatas estavam uma delícia, e os toros de couve tronchuda com o molho de azeite, vinagre, colorau e alho criavam ainda mais apetite. Havia muitos meses que não se comia polvo em casa, mas hoje chegava para todos.
No fim da ceia os mais velhos foram acomodar o gado e depois juntaram-se aos demais rapazes da aldeia, que com um carro de bois arrebanhavam lenha pelas portas para fazerem a fogueira de Natal em frente ao adro da igreja.
Era uma fogueira enorme que ardia durante toda a noite de Consoada e todo o dia de Natal, às vezes entrava pela noite do dia 25 a arder. Os rapazes reuniam-se em volta dela, e ali ficavam depois da Missa do Galo, quer chovesse quer nevasse.
Só ficara a mãe com o Luís e a Raquel, à volta do lume onde ardia um enorme cepo de carvalho.
- Conta lá o teu segredo, disse a Raquel cheia daquela curiosidade feminina própria dos seus 15 anos.
- Só conto à mãe.
Aproximou-se mais da mãe e na inocência dos seus sete anos contou, em voz baixa, mas que dava para outros ouvirem, como o Menino Jesus lhe mostrara o céu. Quando acabou, a irmã ia dar uma gargalhada, mas a mãe arregalou-os olhos pedindo-lhe silêncio, ele abriu a boca e esfregou os olhos em sinal de cansaço.
Então a mãe pegou nele ao colo e levou-o para a cama, quis rezar com ele a oração ao anjo da guarda, mas já dormia e só quando ela lhe desprendeu a mão da sua e lhe aconchegava a roupa balbuciou: -Era o céu não era mãe? - e dormiu.

Octávio Pereira
Felg. Dez. 2005

sexta-feira, dezembro 24, 2010

MENSAGEM DE BOAS FESTAS


A Direcção da USAF deseja a todos os alunos, formadores e respectivos familiares um Bom Natal e um próspero Ano Novo.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

A Universidade aos 20 Anos

AMIGOS DA UNIVERSIDADE

O amor brilhava contra os bolsos, no fundo das calças

Os corpos iluminavam-se mesmo sem paixões

Havia o valor do saber, o gosto pela erudição

Consumíamos apontamentos, fotocópias, sebentas, sem tempo para livros

A noite irradiava como uma miríade qualquer

Tínhamos fome das mulheres, contra a solidão, um abismo sideral

Queríamos o mar para partilhar, rios opíparos cheios de sonhos

Espreitávamos curiosos os romances uns dos outros

Permanecíamos fiéis à História, mas torcíamos pelas Ciências Sociais

Achávamos graça às pedagógicas

Havia mestres no ensino e na investigação

Saudávamos salpicadamente as frequências, ou exames uns dos outros

Havia jogos que discordávamos

Tínhamos o sentido apurado da justiça e da utopia

Dávamos tudo por uma boa mulher, o resto é conversa

Éramos capazes das maiores rivalidades e maiores comunhões

Preparávamos o futuro mais brilhante

E o amor era o bastante

Sabíamos das palavras e dos silêncios uns dos outros

Raramente não nos ríamos

Mas só o amor nos revelava

Vinha dos campos a natureza apaixonada

E é a ela que devemos iluminar

Fomos um exemplo de partilha.

Francisco Carmelo, 16/11/10

(Comemoração dos 25 anos do final do curso: Licenciatura em Ensino de História e Ciências Sociais - 1985)

USAF VISITA ESCOLA DE LAGARES

No passado dia 9 de Dezembro, um grupo de alunos e de professores da USAF deslocaram-se à Escola EB 2 3 de Lagares. Esta deslocação resultou de um protocolo da iniciativa da D.ra Helena Costa, professora das disciplinas de Ciência e de Matemática do 6.º ano.
O principal objectivo foi sensibilizar os alunos de duas turmas da referida professora, que apresentam algumas dificuldades de aprendizagem, de motivação para o estudo e alguns casos, embora pontuais, de adaptação comportamental. Como tal, tratou-se de um evento cultural, formativo e pedagógico, com base numa ligação inter-geracional. Houve ainda ocasião para um momento musical, muito agradável, em que todos conviveram e se sentiram felizes. Os elementos da delegação da USAF também se sentiram rejuvenescidos e mais enriquecidos com a referida acção formativa. Não faltaram perguntas diversas dos alunos da Escola sobre os mais variados temas, às quais os elementos da USAF responderam cordialmente e em conformidade com o seu saber, as suas experiências profissionais e de vida
A USAF está disponível para continuar a deslocar-se á mesma escola, bem como a receber os mesmos alunos nas suas instalações e durante as suas actividades lectivas e culturais. De igual modo, se disponibiliza a colaborar, nesta área, com eventuais iniciativas de outras instituições que o manifestem.







quarta-feira, dezembro 08, 2010

FORMADOR DA USAF DE LUTO

Faleceu a mãe do senhor Dr. João Vieira, distinto formador da Universidade Sénior de Felgueiras. O funeral da inditosa finada realizou-se no dia oito de Dezembro, para o cemitério de Varziela.
A “ Família USAF” envia ao dr. João Vieira e seus familiares os sentidos pêsames.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Palavra de Bispo

Palavra versus palavras

Há norte na palavra do Pastor
A leste de Timor
- Ximenes Belo.

Por estranho que pareça
Em Portugal
A Mitra de Setúbal
Coincide no meridiano
E no paralelo.

Nestas coordenadas
A palavra é forte.
É uma gota no oceano de palavras
Sem norte.

José Leite

Nota da Redacção – Neste poema, o autor destaca a importância da intervenção pública na denúncia de todas as injustiças (daí o destaque dado ao  título). Coteja e homenageia os bispos D. Ximenes Belo, ex-bispo de Díli, e D. Manuel Martins, ex-bispo de Setúbal pela suas corajosas intervenções em favor dos menos favorecidos.