Autumn Cannibalism
Rochedos cinzentos da praia de Moledo,
manchas pretas das colónias de mexilhões
ou brancas do sal e algas secas dum penedo,
viveiros de navalheiras e camarões.
Mais que o meu refúgio, sois o meu castelo
Sem ameias, seteiras ou torre de menagem.
Marcos da memória do horrível e do belo
Naufrágios, guerras e a riqueza da paisagem.
Atrás o casario, por entre o arvoredo,
estende-se ao sol escaldante do verão
e aos pés ondas curtas e rasas, quase a medo
fazem e desfazem brancura de um nevão.
Ao lado anda um rebanho de algas a boiar
como se foram focas de bigodes pretos
e narinas largas que aqui viessem dar,
foi sempre assim contam as avós aos netos.
Fumegando navega ao largo um cargueiro
sob um céu cinzento em direcção ao Norte
cruza-se com pescadores e um veleiro,
procuram porto e abrigo do vento forte.
E o Forte da Ínsua no meio do rio,
sentinela que alguém se esqueceu de render,
parado no tempo. Tempestades e o frio
fizeram estragos, mas não o fizeram tremer.
Em tempos, foi Praça-forte e foi Convento
da Senhora da Ínsua altar e guardião,
poliedro granítico leitoso e cinzento
é farol e é marco à navegação.
Ao fundo Santa Tecla, mesmo no sopé,
mortas duas chaminés desiguais e em linha
espetadas contra o céu, ou sinal de fé,
em frente o Camarido e a vila de Caminha.
OBP
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